Joana Henriques // Soluções Poéticas para Coisa Nenhuma.
Artecapital Magazine

O plano expositivo resulta de um questionamento sobre uma visão mecanicista e cartesiana do mundo, Nuno Vicente mostra-nos fragmentos artísticos de uma pesquisa que atenta sobre as causas de um mal-estar e, em reverso, os factores potenciadores de “felicidade”. A exposição é composta por uma constelação de objectos que se debruçam sobre a perda da verdade… próteses, elementos poéticos, metáforas que reencaminham o ser à realidade, à esfera dolorosa, à mediação difícil de um objecto ou de um ponto que surge por experienciar numa linguagem única, nostálgica, paradigmática e “desutópica”. Obras conceptuais que levam o observador a desencadear um pensamento. Embora nem todas estejam directamente ligadas ao conceito que se quer chegar, são sempre obras “potenciadoras” de pensamento. O que vemos através de um 3D View Master? Como podem peças de Lego ser símbolo de violência? Porque haveríamos de vestir um colete com uma lupa que nos faz convergir para nós próprios? O que sentimos ao carregar num quadrado plástico com 2 cm2, de um gravador de K7 para ouvir um jovem falar de amor, ética, utopias, esperança, beleza e contemplação? Para quê vestir asas de madeira?
Num espírito revivalista dos anos 80, onde impera um clima nostálgico e ideal, Nuno Vicente cria objectos que todas as pessoas gostariam de usar, mas que não funcionam na vida “real”, nasceram sim do imaginário, do mundo onírico e Utópico, acabando por ficar delegados ao Nada devido à sua impossibilidade, à impossibilidade de concretização da sua função. Trata-se de uma alegoria de esperança num tempo de crise, que nos relembra que um herói é aquele que tenta o que sabe à partida ser uma missão impossível.
O artista coloca-nos questões complexas de forma simples, irónica, humorística e optimista, obriga-nos a olhar para nós próprios, para quem somos e para onde progredimos, não nos deixando esquecer que, enquanto seres sociais e humanos, temos responsabilidade no esboço de um futuro comum.
Arte experiencial, interactiva, onde o espectador vive a obra de forma literal e intensa – o observador completa a obra de arte e é aqui que se concretiza o momento artístico.

Joana Henriques,
2009