Celso Martins // Soluções Poéticas para Coisa Nenhuma.

Há uma certa atmosfera geracional na última exposição de Nuno Vicente. Não do ponto de vista estilístico, mas por uma espécie de ironia desencantada que atravessa os múltiplos momentos que compõe “Soluções Poéticas para Coisa Nenhuma”. Na verdade, é isso que unifica uma mostra que lança mão da escultura, do desenho, do vídeo, do som e se sustenta em diversas estratégias criativas. Um dos aspectos mais interessantes é a forma como as ideias passam de umas peças para as outras como a tabuleta onde se lê “Into a perfect world” que é depois levantada por um grupo de rapazes numa série de desenhos, ou as pesadas asas colocadas na sala que serviram, como um vídeo documenta, ao artista para tentar voar. Outras das fontes de sentido são as citações como no conselho de pai de Homer Simpson ao filho Bart: “A tentativa é o primeiro passo para o falhanço” que nos surge imóvel num plasma como um mantra a aprender. As referências à infância, a um estado de inocência e a uma vontade de construir, sempre boicotada, são constantes como na peça em que se vê um adulto a fazer construções em lego ou num conjunto de desenhos que afinal são balões rebentados. Circulando por entre elas, percebemos que o que se nos oferece nesta malha de indícios é afinal um generoso, mas falível, plano contra a melancolia.

Celso Martins
2009